'....um homem da Via não busca fama nem fortuna...'
Ao pé do mar ou na montanha
um homem da Via não busca fama nem fortuna.
Noite após noite, como dois pássaros, nós aninhamos em samadhi,
submersos nos galanteios, nas conversas íntimas e a felicidade do orgasmo.
Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Wild Ways, White Pine Press, 2003, USA. Ilustração: Enso de Kanjuro Shibata XX. O título é meu.
Em solidão espreito a cara branca da geada. Não vai para nenhures, como eu não venho de nenhures. Tudo passado a ferro, plissado, sem uma ruga: a milagrosa planície que respira. O sol franzindo os olhos perante a pobreza engomada - a própria goma… …
Filhos do Tempo, hipócritas, os Dias, parvamente cobertos, como dervixes descalços, e marchando sozinhos numa fila infindável, apresentam diademas junto a feixes de lenha. Oferecem presentes consoante a vontade: pão, reinos, estrelas, o céu que abarca… …
espasmo no meio do nada alguma cousa o ruido de martelos ao longe ou a pressão do corpo contra a cama recordos a construir imagens ou desejos a memória a inventar passados que sempre foram ou não realidades o fundo do olho que não constrói mais… …
tinha uma rosa no peito e passeava nas suas mãos o peso das gaivotas suspensas na garroa do verão e tinha nos pés as asas da andorinha nas virilhas o vento que as narinas pariam fresco e leve porque tinha uma rosa no peito e teias de aranha como pele… …
se a história é aquilo que os livros guardam porque a memória não chega e se todas e todos nós carregamos a história que é nossa muito além da memória consciente e se a memória é seletiva e todo o mundo sabe que a memória é seletiva que nos esconde o… …
Alma minha, cuida-te da pompa e a glória. E se não puderes refrear as tuas ambições, vai, pelo menos, atrás delas hesitante, cautelosamente. E quanto mais alto estiveres, mais incisivo e cuidadoso tens de ser. E quando atingires o cume, César por fim –… …
Avaro amor, porque é que vais reter em ti somente a herança de beleza? Empresta, nada dá, a natureza, livremente mas só a quem livre der. Sovina da beleza, porque abusas daquilo que foi dado para dares? Usurário sem ganho, porque usares, sem poderes… …
Na ribeira, a brisa inclina a relva fina e o alto mastro parece solitário no meu bote. As estrelas espalham-se tão perto da planície aberta, e a lua ondula sobre o rio Yangtzé. De que vale a fama, o estátus de grande poeta? O que é sujeito a doença e a… …
Olha no espelho a tua face e diz “é tempo de uma nova já criares fresca", se deceção não desejares roubando ao mundo o que uma mãe bendiz. Quem, de ventre virgem, é a arrogante que desdenhe a semente que tu enterras? Quem de vaidade tal cavada em terra… …