Em Jerusalém, e quero dizer dentro dos antigos muros,
caminho duma época para a outra sem uma memória
que me guie. Lá estão os profetas a compartilhar
a história do sagrado… ascendendo ao céu
e voltando menos desiludidos e melancólicos, porque o amor
e a paz são sagrados e estão a caminho.
Estava a descer uma encosta e pensava para mim: como podem
os que contaram a história divergir sobre o que a luz disse à rocha?
É sobre uma rocha levemente iluminada que começam as guerras?
Caminho no meu sonho. Olho fixamente no meu sonho. Não vejo
ninguém atrás de mim. Não vejo ninguém à minha frente.
Toda esta luz é para mim. Caminho. Torno-me leve. Voo
e então torno-me outro. Transfigurado. Palavras
nascem como a erva da boca do mensageiro
de Isaias: “Se não acreditares, não serás salvo”
Caminho como se fosse outrem. E a minha ferida uma branca
rosa bíblica. E as minhas mãos como dois pombos
sobre a cruz, passando por cima e levantando a Terra.
Não caminho, voo, torno-me outro,
transfigurado. Sem lugar e sem tempo. Quem sou eu?
Eu não sou eu nenhum na presença da Ascensão. Mas eu
penso para mim: Sozinho, o profeta Maomé
falava árabe clássico. “E depois?”
E depois? Uma mulher soldado gritou-me
Outra vez tu? Não te tinha matado já?
E eu respondi: mataste-me... mas eu, como tu, esqueci morrer.