de tanto ver-te ao espelho
já ninguém
se refletia no teu rosto
morreste para ti
voltada em ti
como um rio que tenta despenhar-se
na sua nascente
e no entanto
quanta corrente nos deixaste
ninguém quer ver-se em ti
mas são as tuas águas que nos levam
e somos
o rio de narciso
que não segura a imagem mas dissolve e empurra
a sua fome
que alimenta o amor
que se transforma em pão
que se torna fome
águas que preferimos ignorar
mas somos
morreste para ti com um sorriso
deixaste atrás a fome
atravessaste o espelho
já ninguém se reflete no teu rosto
mas hoje vejo em ti a matéria viva
que escondem os desejos
porque na morte todos somos
espelhos
e tu já és a luz que se reflete