Fecharam o caminho que atravessava a floresta
setenta anos há.
O tempo, a chuva, vieram desfazê-lo,
e ninguém diria já
que houve um caminho que atravessava a floresta
sem árvores plantadas.
Jaz por baixo dos rebentos, das urzes
e flores delicadas.
Só o cuidador conhece
que, onde a rola faz ninho entre giesta,
e o texugo espairece,
houve um caminho que atravessava a floresta.
Mas, se fores à floresta,
numa tarde de verão em que o ar
entrando a noite acalma as águas
e a lontra acasala a assobiar
(não há medo do homem, na floresta,
porque são poucos a passar),
ouvirás os cascos dos cavalos
e uma saia no orvalho a murmurar,
a densa solidão cheia de névoa
a meio trote atravessar,
como se conhecessem sem pensar
o caminho perdido que atravessava a floresta…
Mas não há caminho que atravesse a floresta!