tinha uma rosa no peito
e passeava
nas suas mãos o peso das gaivotas
suspensas na garroa do verão
e tinha
nos pés as asas da andorinha
nas virilhas o vento que as narinas
pariam fresco e leve
porque tinha
uma rosa no peito
e teias de aranha como pele
finos fios de teia
de aranha era a estrutura
e era a carne
o orvalho da manhã que umedecia
a terra bem nutrida
dos intestinos
húmus de que nascia a rosa
que tinha no peito
e era o rosto
espelho do mundo
eram os olhos
farol que iluminava o breu
o sexo
passarinho
mosquito
borboleta
voo
daquela rosa a outra
mas havia
na rosa um alfinete
que lhe cosia ao peito as dores
e era
esse alfinete a culpa
a grande culpa
a miserável culpa
o medo
os dentes de metal que alimentara
para morder-lhe o coração
e era o seu sangue
as pétalas da rosa
que tinha no peito