Um dia eu serei uma caveira deitada numa almofada de erva,
a que cantam um ou dois pássaros vadios.
Reis e plebeus acabam da mesma maneira
e não duram mais do que o sonho da noite.
* * * * * * * *
Desci ao vale para apanhar orquídeas
mas o terreno estava coberto de gelo e orvalho
e passei o dia inteiro para encontrar as flores.
De súbito lembrei dum velho amigo
de que me separam milhas de rios e montanhas.
Voltarei mesmo a vê-lo?
Olho fixamente para o céu,
com as faces sulcadas por lágrimas.
(Ryôkan)
Tudo o que nasce do karma desaparece quando esse karma acaba,
mas onde nasceu esse karma?
Donde surge a Primeira Causa?
Aí os pensamentos e as palavras são de pouca utilidade.
Perguntei a uma mulher idosa do ocidente sobre este tema
mas não gostou nada,
e o velho amigo do ocidente
fez uma careta e foi-se.
Escrevi o problema num bolo de arroz
e dei-o a uma cachorro
mas nem sequer ele lhe meteu o dente.
Percebendo que essas palavras dão azar,
misturei a vida e a morte num comprimido
e dei-o a uma caveira gasta pela chuva.
A caveira ergueu-se dum salto,
cantando e dançando para mim;
uma balada fascinante que abarcava o passado, o presente e o futuro,
uma dança maravilhosa que se divertia no reino do samsara.
A caveira cobriu tudo em absoluto.
Eu vi a lua a pôr-se em Chang’an e os seus sinos de meia noite!
(Ryôkan)
Encontrei-te de novo mais de vinte anos depois,
numa ponte raquítica, por baixo da lua nebulosa, no vento da primavera.
Caminhamos e caminhamos, de braços dados, sem parar de falar
e de repente estávamos diante do santuário de Hachiman!
(Ryôkan)
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