Alacant, 5 de Dezembro de 2003. Afinal chegou o Outono.
Que triste tempo quando falava no tempo. Dou uma olhada atr?s e s? vejo segundos vazios, ? procura de um algo nas palavras.
Tudo dá voltas. Arredor deste mundo que é a minha vida. Tudo dá voltas. Apenas eu não volto, apesar de todas as viagens. A realidade é uma máquina de lavar. Os meus sonhos com Ela um remoinho de mar interior. Tudo dá voltas. A realidade é o enjoo profundo de um poço que dá voltas como tudo. Um poço no deserto. Às vezes até mergulho nas águas para tirar em limpo o tempo de ter estado dentro. Porque tudo dá voltas, o enjoo é a forma mais diáfana de ser-se equilibrado. A realidade é uma ventoinha. O meu sono com Ela um remoinho de dois corpos trançados. Tudo dá voltas, sim. Mas sou eu que não volto. Estou em crise porque a linha recta está em crise. O paraíso perdido é uma doença para a alma. O pecado original é ser-se emigrado de si próprio. (Volta também o tópico da Terra.) A realidade é uma betoneira. O meu acordar com Ela um paraíso em terra firme. Um paraíso para a alma. E eu sou a alma. E Ela é a alma. E tudo é a alma. E tudo dá voltas.
Apenas 4 horas para a partida. Em Alacant volta a ser primavera: tá um dia de sol esplendoroso. Gosto da ideia de que em 19 horas de viagem vou presenciar um fazer-se a Galiza perante os meus olhos por meio do clima. Acho em falta a chuva de Compostela, por tópico que seja. Durante a viagem cantarei Andrés Dobarro.
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