Estava na vila pedindo esmola quando encontrei um velho sábio:
"Monge, porque é que vives nas cimeiras cobertas de nuvens?"
"Velho amigo", respondi, "porque é que continuas neste lugar poirento?"
Ambos queríamos responder, mas nenhum falou.
Então o meu devaneio foi interrompido pelo sino do templo.
* * * * * * * * * * *
Sentei-me perante ti durante quatro horas, mas tu não falaste;
então percebi por fim o sentido daquele silêncio.
Sem as suas cobertas, livros jazem destroçados em volta;
por trás do biombo de bambu, a chuva bate contra a ameixeira.
(Ryôkan)
O vento parou, as flores caíram;
cantam pássaros, as montanhas escurecem -
este é o poder maravilhoso do Dharma do Buddha.
* * * * * * * *
Na floresta de Otogo, ao pé do monte Kugami
encontrarás a cabana em que passo os dias.
Não há templos nem vilas para mim!
Prefiro viver com as ervas frescas e a lua brilhante,
brincando com as crianças da aldeia ou escrevendo poemas.
Se fizesses uma pergunta sobre mim, provavelmente fosse
"O que andará a fazer esse monge tolo?"
(Ryôkan)
Buddha proclamou incontáveis ensinamentos,
todos e cada um mostrando a verdade mais pura.
Assim como cada brisa e cada gota de chuva
refrescam a floresta,
não há sutra que não leve à salvação.
Segura a essência de cada rama
e deixa de tentar classificar os ensinamentos do Buddha.
* * * * * * * *
A Grande Via não leva a qualquer lugar
e não é nenhum lugar.
Afirma-o e terás errado o alvo por kilómetros;
"Isto é ilusão, aquilo é iluminação" também anda longe da verdade.
Podes expor teorias da "existência" e da "inexistência"
mas até falar do "Caminho do Meio" pode levar-te a engano.
Por minha parte, vou guardar as minhas boas experiências para mim;
paleia sobre iluminação e as palavras far-se-ão em cacos.
(Ryôkan)
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