se a história é aquilo que os livros guardam
porque a memória não chega
e se todas e todos nós carregamos a história
que é nossa muito além da memória consciente
e se a memória é seletiva
e todo o mundo sabe
que a memória é seletiva
que nos esconde o que dói
o que doeu
e nos abraça aos fantasmas
das vitórias
se somos
este corpo que somos
porque outros corpos foram antes
mortos ou torturados
e essa memória for expulsa
do que lembramos
então quem matou
ou torturou
ainda decide por nós quem é que somos
molda a memória da nossa história
o nó da rede que une este corpo
ao universo inteiro
deita abaixo a ponte
da ilha que somos
afunda os barcos
como afundou cadáveres
e é por isso
porque somos o mundo todo
nesta ilha
que é tempo de abraçarmos a dor
como abraçamos irmãos, pais e família
tempo de desenhar no espaço
deste papel de estraza
o nosso governo revolucionário
numa taberna
de nos vermos nos espelho da história
como nos vemos no espelho do mar em calma
a nossa vitória será
sermos quem somos
pequenas formigas que construímos mundos
a ela
- que está por vir -
é que me abraço
Alma minha, cuida-te da pompa e a glória.
E se não puderes refrear as tuas ambições,
vai, pelo menos, atrás delas hesitante, cautelosamente.
E quanto mais alto estiveres,
mais incisivo e cuidadoso tens de ser.
E quando atingires o cume, César por fim –
quando assumires o papel de alguém tão grande quanto isso –
tem mesmo cuidado quando fores à rua,
notável homem de poder com seu cortejo;
e se um tal Artemidoro
vier a ti, saindo da multidão, e te der uma carta,
e disser “Lê isto imediatamente.
É sobre ti, e é de vital importância”,
cuida de parares; cuida de deixares
toda conversa e assunto; cuida de te apartares
daqueles que te saúdam e se inclinam perante ti
(podem ser vistos depois); deixa inclusivamente
que o próprio Senado espere – e descobre aí
as informações vitais que Artemidoro te tinha escrito.
Avaro amor, porque é que vais reter
em ti somente a herança de beleza?
Empresta, nada dá, a natureza,
livremente mas só a quem livre der.
Sovina da beleza, porque abusas
daquilo que foi dado para dares?
Usurário sem ganho, porque usares,
sem poderes viver, somas profusas?
Por seres de ti próprio traficante,
tu próprio burlas o teu doce eu.
Quando a vida pedir o que te deu,
de ti que vai ficar como montante?
Contigo essa beleza será ida
que herança fosse se lhe desses vida.