Alma minha, cuida-te da pompa e a glória.
E se não puderes refrear as tuas ambições,
vai, pelo menos, atrás delas hesitante, cautelosamente.
E quanto mais alto estiveres,
mais incisivo e cuidadoso tens de ser.
E quando atingires o cume, César por fim –
quando assumires o papel de alguém tão grande quanto isso –
tem mesmo cuidado quando fores à rua,
notável homem de poder com seu cortejo;
e se um tal Artemidoro
vier a ti, saindo da multidão, e te der uma carta,
e disser “Lê isto imediatamente.
É sobre ti, e é de vital importância”,
cuida de parares; cuida de deixares
toda conversa e assunto; cuida de te apartares
daqueles que te saúdam e se inclinam perante ti
(podem ser vistos depois); deixa inclusivamente
que o próprio Senado espere – e descobre aí
as informações vitais que Artemidoro te tinha escrito.
Avaro amor, porque é que vais reter
em ti somente a herança de beleza?
Empresta, nada dá, a natureza,
livremente mas só a quem livre der.
Sovina da beleza, porque abusas
daquilo que foi dado para dares?
Usurário sem ganho, porque usares,
sem poderes viver, somas profusas?
Por seres de ti próprio traficante,
tu próprio burlas o teu doce eu.
Quando a vida pedir o que te deu,
de ti que vai ficar como montante?
Contigo essa beleza será ida
que herança fosse se lhe desses vida.
Na ribeira, a brisa inclina a relva fina
e o alto mastro parece solitário no meu bote.
As estrelas espalham-se tão perto da planície aberta,
e a lua ondula sobre o rio Yangtzé.
De que vale a fama, o estátus de grande poeta?
O que é sujeito a doença e a velhice devia pôr-se de lado.
À deriva, flutuando: o que resta para a gaivota solitária
à deriva entre a terra e o céu.
(Du Fu)