Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.
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Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.
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Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.
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A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.
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Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!
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Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela
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Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...
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Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens
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É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.
(Ryôkan)
O denso arvoredo de bambu à volta da minha cabana
mantém-me cómodo e fresco.
Rebentos proliferam, bloqueando o caminho
enquanto os galhos velhos procuram o céu.
Anos de geadas dão espírito ao bambu;
são mais misteriosos quando embrulhados na névoa.
O bambu é resistente como o pino ou o carvalho
e mais subtil que a flor do pessegueiro e da ameixeira.
Cresce direito e alto,
oco por dentro, mas com raiz robusta.
Amo a pureza e honestidade do meu bambu,
e quero que cresça aqui para sempre.
(Ryôkan)
A moita de bambu teve alguns brotos novos.
Este velho monge volta a sentir-se jovem.
A minha beleza só tem trinta e seis anos.
A brisa fresca atravessa os muros despedaçados.
(Ikkyu Sojun)