as tuas fotos vêm comigo
de casa em casa
de escuro a escuro
esconderijo
nelas estás nua
e nelas
estamos nós
há tanto tempo
nus
tu tão bonita
eu
tão tristemente homem
aquela miúda que ficou comigo
no papel fotográfico
e na memória
também ficou na vida
às vezes penso como pude
conseguir que me amasse
tanta beleza
é claro que não pude
é um mistério de esfinge que me ames
como o teu corpo que produz orgasmos
no teu umbigo remoinham-se arrepios
da minha pele
xiqueta que sempre foste
e és
falta-me tantas vezes o teu corpo breve
quase apagado nos meus braços
os teus peitos que não se apartam dos meus olhos
o teu sexo
que consegue engolir-me inteiro apenas por um apêndice
hoje escrevo estas palavras na distância
amanhã
terei contigo
então verei a prova da constância
desta mente de mono enlouquecido
e oxalá possa abraçar-te intensamente
e aguentar no sofá durante horas
as séries de que gostas
e oxalá o teu cabelo não me moleste no nariz
e possa abraçar-te deitadinhos
tentando acalmar-te quanto possa
as dores menstruais
mas entretanto
estás aqui
nos meus dedos
feita papel
e cores
deusa dos meus instintos
senhora dos meus pecados
menina e moça desse olhar malandro
que me desperta ao coração do mundo
Este é o corpo real.
A nuvem louca.
A sensação eterna de queda
haja ou não haja queda.
O fluxo cego que gravita em torno à gorja.
Este é o corpo real
e do real.
O remoinho
de sensações em torno ao estômago.
Estômago o centro do mundo
digerindo
pedras nas tripas.
A segurança
do ar.
O vento.
Depois de superar cansaços e percorrer quilómetros
toco o sino de dharma para o ar vazio.
Só a estátua do Buda se sentou comigo
e me acompanha a respirar as dores.