A existência humana neste mundo:
folhas de lentilhas de água boiando sem destino à superfície.
Quem pode sentir-se seguro?
Esta é a razão porque peguei
nas minhas coisas de monge, deixei os meus pais,
e ofereci um adeus aos meus amigos.
Um simples kesa remendado
e uma cunca mantiveram-me todos estes anos.
Gosto muito desta cabana pequena
e amiúde passo tempo aqui -
ela e eu somos espíritos parentes
e nunca nos importamos por quem é hóspede ou anfitrião.
O vento sopra entre os pinos altos,
a geada congela os crisântemos que restam.
De braço dado, estamos por cima das nuvens:
unidos como um, perambulando pelo além do além.
(Ryôkan)
No meu jardim
fiz crescer arbustos de trevos,
erva suzuki,
lilases, dentes-de-leão,
floridos árvores da seda,
bananeiros, glórias-da-manhã,
epatóriuns, asteres,
tradescantias, hemerocallis.
Noites e manhãs
a amá-las todas,
a regá-las, nutri-las,
a protegê-las do sol.
Toda a gente dizia que as minhas plantas
estavam no seu melhor.
Mas em vinte e cinco de maio,
ao pôr-do-sol,
um vento violento
soprou como louco,
batendo e arrancando as minhas plantas.
A chuva verteu-se,
machucando ramos e flores
contra a terra.
Foi doloroso,
mas como o trabalho do vento,
tenho que deixá-lo estar...
(Ryôkan)
Tufões e cheias fazem sofrer toda a gente,
e esta noite não se vai dançar e cantar.
O Dharma flore e murcha, as idades chegam e vão-se:
tão certo mas tão triste - a lua põe-se por trás do Pavilhão do Oeste.
(Ikkyu Sojun)