Para o nosso bem,
os moluscos e os peixes
oferecem-se
desinteressadamente
como comida.
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Na minha pequena tigela das esmolas,
amores-perfeitos e dentes-de-leão
à mistura
como uma oferenda
aos Budas dos Três Mundos.
A colher amores-perfeitos
à beira da estrada,
com a mente absorta,
deixo atrás a minha tigela.
Coitada!
Outra vez esqueci
a minha pequena tigela. ?
Ninguém vai apanhar-te,
certeza que ninguém vai apanhar-te,
triste tigela minha!
(Ryôkan)
Cedo, o primeiro dia de agosto,
pego na minha cunca e dirijo-me à vila.
Nuvens de prata acompanham os meus passos,
uma brisa de ouro acaricia o sino do meu bastão.
Dez mil portas, mil cidades abertas para mim.
Deleito os meus olhos em bosques de bambu e bananeiras.
Mendigo cá e lá, ao leste e ao oeste,
parando também em lojas de saké e peixarias.
Uma olhada honesta pode desarmar uma montanha de espadas;
um passo calmo pode deslizar por cima do lume do inferno.
Esta foi a mensagem do Rei dos Mendigos
ensinada aos seus principais discípulos há por volta de vinte e sete séculos.
E eu ainda me comporto como um descendente de Buda!
Um tipo sábio disse uma vez há tempo:
'Quanto à comida, tudo é igual perante a Lei de Buda'.
Mantém essas palavras na cabeça
passem as eras que passarem.
(Ryôkan)
Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.
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Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.
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Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.
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A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.
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Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!
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Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela
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Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...
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Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens
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É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.
(Ryôkan)