Primeiramente florescido no Paraíso do Oeste,
o lótus tem-nos deleitado durante tempo infinito.
As suas pétalas brancas estão cobertas de orvalho,
as suas folhas verdes de jade espalham-se pela lagoa,
e a sua fragrância pura perfuma o vento.
Majestoso e calmo, surge das águas escuras.
O sol está a pôr-se por trás das montanhas
mas eu fico no escuro, demasiado cativado para me ir embora.
(Ryôkan)
Quando todos os pensamentos
estão exaustos,
adentro-me no bosque
e colho
um monte de prémios de pastor.
Como o pequeno riacho
faz o seu caminho
entre as fendas musgosas
também eu, em silêncio,
me torno claro e transparente.
-------
No fundo do vale, esconde-se uma beleza:
serena, sem igual, incomparavelmente doce.
Na sombra calma da moita de bambu,
parece que suspira pelo amante.
(Ryôkan)
À noite, no fundo das montanhas,
sento-me em zazen.
Os assuntos dos homens nunca chegam aqui:
tudo é tranquilo e vazio,
e o incenso já foi engolido pela noite sem fim.
O meu kesa tornou-se uma tela de orvalho.
Incapaz de dormir, saio a caminhar entre as árvores -
subitamente, por cima do pico mais alto, aparece a lua cheia.
------------
Na minha hermita, um volume dos Poemas da Montanha Fria -
é melhor do que qualquer sutra.
Copio os seus versos e penduro-os á volta
saboreando cada um, uma e outra vez.
(Ryôkan)