Em solidão espreito a cara branca da geada.
Não vai para nenhures, como eu não venho de nenhures.
Tudo passado a ferro, plissado, sem uma ruga:
a milagrosa planície que respira.
O sol franzindo os olhos perante a pobreza engomada -
a própria goma consolada, plácida…
o bosque decuplicado praticamente igual…
e a neve estala contra os olhos, inocente, como pão limpo.
Filhos do Tempo, hipócritas, os Dias,
parvamente cobertos, como dervixes descalços,
e marchando sozinhos numa fila infindável,
apresentam diademas junto a feixes de lenha.
Oferecem presentes consoante a vontade:
pão, reinos, estrelas, o céu que abarca tudo.
No meu jardim selvagem, olhei aquela pompa,
esqueci os meus votos matinais, prestamente
peguei em ervas e maçãs, e o Dia
virou e partiu em silêncio. Tarde demais,
eu vi, sob a solene febra, desprezo.
Alma minha, cuida-te da pompa e a glória.
E se não puderes refrear as tuas ambições,
vai, pelo menos, atrás delas hesitante, cautelosamente.
E quanto mais alto estiveres,
mais incisivo e cuidadoso tens de ser.
E quando atingires o cume, César por fim –
quando assumires o papel de alguém tão grande quanto isso –
tem mesmo cuidado quando fores à rua,
notável homem de poder com seu cortejo;
e se um tal Artemidoro
vier a ti, saindo da multidão, e te der uma carta,
e disser “Lê isto imediatamente.
É sobre ti, e é de vital importância”,
cuida de parares; cuida de deixares
toda conversa e assunto; cuida de te apartares
daqueles que te saúdam e se inclinam perante ti
(podem ser vistos depois); deixa inclusivamente
que o próprio Senado espere – e descobre aí
as informações vitais que Artemidoro te tinha escrito.