Perguntas porque vivo
sozinho na floresta da montanha,
e eu sorrio e calo
até que a minha alma se silencia.
Os pessegueiros florem.
A água continua a correr.
Vivo num outro mundo
mais além do humano.
Peguei no meu bastão e devegar fiz o percurso
que leva à cabana em que vivi tantos anos.
Os muros tinham desabado e agora era abrigo de raposos e coelhos.
O poço ao pé da mata de bambu tinha secado
e densas teias de aranha cobriam a janela onde costumava ler à luz da lua.
Os degraus estavam cheios de ervas selvagens
e um grilo solitário cantava no frio amargo.
Perambulei de forma interminente,
incapaz de afastar-me enquanto o sol se punha com tristeza.
(Ryôkan)
Na ladeira do
Kugami,
à sombra da montanha,
durante quanto tempo foi
esta cabana a minha casa?
Chegou o momento
de abandoná-la -
a minha memória vai esvair-se
como as ervas do verão.
Andei e andei à sua volta
num sentido e no contrário
e depois afastei-me
até que a cabana desapareceu
entre as árvores.
Enquanto caminho, continuo
a olhar para trás depois de cada curva,
voltando a vista para aquele lugar.
(Ryôkan)