Avaro amor, porque é que vais reter
em ti somente a herança de beleza?
Empresta, nada dá, a natureza,
livremente mas só a quem livre der.
Sovina da beleza, porque abusas
daquilo que foi dado para dares?
Usurário sem ganho, porque usares,
sem poderes viver, somas profusas?
Por seres de ti próprio traficante,
tu próprio burlas o teu doce eu.
Quando a vida pedir o que te deu,
de ti que vai ficar como montante?
Contigo essa beleza será ida
que herança fosse se lhe desses vida.
Na ribeira, a brisa inclina a relva fina
e o alto mastro parece solitário no meu bote.
As estrelas espalham-se tão perto da planície aberta,
e a lua ondula sobre o rio Yangtzé.
De que vale a fama, o estátus de grande poeta?
O que é sujeito a doença e a velhice devia pôr-se de lado.
À deriva, flutuando: o que resta para a gaivota solitária
à deriva entre a terra e o céu.
(Du Fu)
Olha no espelho a tua face e diz
“é tempo de uma nova já criares
fresca", se deceção não desejares
roubando ao mundo o que uma mãe bendiz.
Quem, de ventre virgem, é a arrogante
que desdenhe a semente que tu enterras?
Quem de vaidade tal cavada em terra
qual tumba, a prole pára desdenhante?
Espelhas tua mãe na tua arte,
que vê no teu reflexo o abril amado.
Assim poderás tu depois mirar-te
com rugas, sim, mas no esplendor passado.
Se essa glória ver queres no jazigo
morre solteiro e morrerá contigo.