À meia-noite, quando ouves de repente
uma procissão invisível a passar
com magnífica música, e vozes,
não lamentes a sorte que hoje te falta,
o trabalho que não deu certo, os teus planos
a se tornarem decepção - não te lamentes disso em vão:
como alguém corajoso, há tempo pronto para isto,
diz adeus a ela, à Alexandria que se vai.
Por cima de tudo, não te enganes a ti próprio,
não digas que foi um sonho, que os teus ouvidos te enganam:
não te degrades com esperanças vãs como essas.
Como alguém pronto há tempo, e cheio de coragem,
como corresponde a ti, a quem esta cidade foi entregue,
vai decidido à janela
e ouve com grande emoção,
mas não com as queixas, as desculpas dum covarde:
diz adeus a ela, à Alexandria que estás a perder.
(Konstantinos Kavafis)
Trabalhei no trabalho,
No meu sono eu dormi,
Morri na minha morte,
Já posso partir.
Deixa atrás a cobiça,
Deixa atrás o que sobra.
Cobiça no espírito,
Cobiça na cova.
Minha amada, sou teu,
Sempre fui, permaneço,
Do tutano até aos poros,
Desta pele ao desejo.
Agora que já acaba
Esta minha missão
Pela vida que tive
Pede o meu perdão.
Fui atrás do meu corpo
Que de mim veio atrás.
O meu desejo é um espaço,
Morrer é navegar.
(Leonard Cohen)
uma teia de aranha recém feita
chamando
como uma vela
em meio da janela aberta
e cá está ele
o pequeno mestre
a navegar
num fio de leite
deseja-me sorte
almirante
há muito tempo que não
acabo nada
(Leonard Cohen)