Às vezes sento-me em silêncio
e ouço o som das folhas a cair.
É realmente pacífica a vida dum monge,
afastada de todas as preocupações mundanas.
Então porque é que brotam estas lágrimas?
Estou consciente
que tudo é irreal:
uma a uma as existências
vão passando neste mundo.
Mas porque é que choro?
(Ryôkan)
Neste mundo, vejo pessoas
que desperdiçam as suas vidas a perseguir objetos,
nunca conseguem satisfazer os seus desejos
e caem numa desesperação funda,
torturando-se a si próprios.
Mesmo se conseguirem o que desejam
por quanto tempo vão desfrutá-lo?
Por cada prazer celestial
sofrem dez tormentos infernais,
prendendo-se mais e mais à roda do moinho.
Essas pessoas são como macacos
a tentar freneticamente agarrar a lua na água
caindo depois num redemoinho.
Quão infinitamente sofrem os presos ao flutuante mundo do sofrimento.
A meu pesar, aflijo-me toda noite a pensar neles
e não posso segurar o meu torrente de lágrimas.
(Ryôkan)
O tempo passa
e não há maneira
de segurá-lo -
então porque é que os pensamentos permanecem
muito depois de tudo o mais ter desaparecido?
* * *
Quando a primavera chegar,
de cada ponta de árvore
nascerão flores.
Mas essas crianças
que caíram com as folhas do último outono
nunca mais vão voltar.
(Ryôkan)