A tua aldeia brumosa não está longe daqui
mas a chuva gelada tem-me mantido toda a manhã cativo.
Parece que foi ontem que passámos o fim da tarde a falar de poesia
e no entanto passaram vinte dias, como soprados no vento.
Comecei a copiar o texto que me emprestaste,
irrequieto pelo fraco que me tenho tornado.
Esta carta cumpre a minha promessa de pegar nas minhas coisas
e fazer o percurso através dos escarpados rochedos
tão logo o sol derrita o gelo, que cobre o caminho cheio de musgo.
(Ryôkan)
Se não fores desencorajado
pela voz do vale
e os cumes estrelados,
porque não atravessas os cedros
e vens visitar-me?
No crepúsculo, vem à minha cabana -
os grilos cantarão para ti
e eu vou apresentar-te
o bosque da meia-noite.
* * *
As cigarras cantam nas copas das árvores, ao pé da cachoeira.
A chuva desta noite deixou o ambiente limpo.
É claro que a minha cabana está totalmente vazia
mas ainda posso oferecer-te uma janela cheia do ar mais embriagante.
(Ryôkan)
Quando penso
em todo o sofrimento
dos seres deste mundo
a sua tristeza
torna-se minha.
Oh, que o meu kesa
seja grande o suficiente
para recolher todas
as pessoas que sofrem
neste mundo flutuante.
Nada me faz
mais feliz do que
o Voto do Buddha Amida
de salvar
toda a gente.
(Ryôkan)