Até desfazer estruturas fixadas é girar no fluxo do nascimento e da morte; até leccionar o caminho médio é ilusão e erro.
Se estudares assim, estudas acompanhado pelos Budas. Se o estudares de outra maneira, estás a estudar sozinho.
Estudar com os Budas ou estudares sozinho; leccionar um metro e leccionar um kilómetro; falar de dez ou falar de nove. São coisas diferentes.
Que significa 'de outra maneira'? És tu próprio. Que significa 'assim'? São os Budas.
Quando o grande Baso começou a dar ensinamentos, o seu mestre Nangaku disse ao seu próprio grupo 'Está Baso a dar ensinamentos às pessoas?' Disseram-lhe que estava e Nangaku disse 'Nunca vi ninguém dar notícia disso'. Ninguém teve uma resposta.
Assim que Nangaku enviou um monge junto a Baso, com as seguintes instruções: 'Quando Baso se levantar na sala de leituras para os ensinamentos, pergunta-lhe como é ele, lembra a resposta e vem de volta'.
O monge foi e fez o que lhe foi dito. Quando voltou, disse a Nangaku, "Baso disse 'desde a rebelião dos Bárbaros, nestes últimos trinta anos, não me tem faltado o sal e a sopa para as comidas"
Pego nesta história e faço uma bola com ela, que ofereço aos iluminados. Há três pessoas que o testemunham: um diz que estou a oferecer flores, outro que estou a oferecer um precioso incenso, outro que estou a oferecer a cabeça, os olhos, o tutano e o cérebro.
Deixando de parte o testemunho destas três pessoas, como poderia o testemunho de toda a comunidade supor uma explicação para as pessoas ordinárias?
"Nos milhões de anos desde a rebelião dos Bárbaros, nunca me tem faltado sal e vinagre".
(Dôgen Zenji)
Uma única declaração desfaz a obstrução da fixação; uma única declaração enche todo o espaço. Diz-me: que declaração empregam os iluminados para ajudar as pessoas?
Sei uma declaração nova, que os iluminados nunca disseram, e que vou dizer-te agora.
Pronto.
(Dôgen Zenji)
Em tempos antigos, um homem que estava no topo de uma torre viu passar dois monges precedidos de dois deuses varrendo e semeando de flores o caminho por onde iam a passar.
Depois, quando os monges voltaram, havia dois demónios a gritar e cuspir, apagando as suas pisadas.
O homem desceu da torre e perguntou aos monges porque é que acontecia isso.
Os monges disseram: "Quando fomos, discutíamos sobre os princípios ensinados pelo Buda; quando voltámos falávamos de coisas triviais. Essa deve de ser a razão do fenómeno".
Os dois monges foram iluminados por este facto, arrependeram-se e foram-se embora.
Ainda que isto é uma objetivação grosseira, quando a examinas com cuidado reparas que é um assunto da maior importância para as pessoas que estudam a Via. Porquê? Simplesmente porque lá fora os objectos aparecem quando surgem pensamentos emotivos. Se os pensamentos não se formarem, não são objectos apreensíveis.
No caso desta velha estória, os deuses encontraram um caminho sobre o que deitar flores, e os demónios acharam um caminho que espezinhar: por isso as coisas aconteceram dessa maneira. Mas que acontece quando os deuses não acham um caminho sobre o que deitar flores e os demónios não acham um caminho que espiar?
Querem perceber? Estou para dizer agora o que ainda não tinha sido dito pelas gerações anteriores.
Os Budas não aparecem no mundo em virtude de experiências meditativas, poderes, ou conhecimentos ocultos. Simples pessoas ordinárias, mas com sabedoria, também realizam estas meditações, ainda que não se apercebam da sua pureza sem contaminação. Se o iluminado lhes explicasse, eles também realizariam a não-contaminação.
(Dôgen Zenji)