Em tempos antigos, um homem que estava no topo de uma torre viu passar dois monges precedidos de dois deuses varrendo e semeando de flores o caminho por onde iam a passar.
Depois, quando os monges voltaram, havia dois demónios a gritar e cuspir, apagando as suas pisadas.
O homem desceu da torre e perguntou aos monges porque é que acontecia isso.
Os monges disseram: "Quando fomos, discutíamos sobre os princípios ensinados pelo Buda; quando voltámos falávamos de coisas triviais. Essa deve de ser a razão do fenómeno".
Os dois monges foram iluminados por este facto, arrependeram-se e foram-se embora.
Ainda que isto é uma objetivação grosseira, quando a examinas com cuidado reparas que é um assunto da maior importância para as pessoas que estudam a Via. Porquê? Simplesmente porque lá fora os objectos aparecem quando surgem pensamentos emotivos. Se os pensamentos não se formarem, não são objectos apreensíveis.
No caso desta velha estória, os deuses encontraram um caminho sobre o que deitar flores, e os demónios acharam um caminho que espezinhar: por isso as coisas aconteceram dessa maneira. Mas que acontece quando os deuses não acham um caminho sobre o que deitar flores e os demónios não acham um caminho que espiar?
Querem perceber? Estou para dizer agora o que ainda não tinha sido dito pelas gerações anteriores.
Os Budas não aparecem no mundo em virtude de experiências meditativas, poderes, ou conhecimentos ocultos. Simples pessoas ordinárias, mas com sabedoria, também realizam estas meditações, ainda que não se apercebam da sua pureza sem contaminação. Se o iluminado lhes explicasse, eles também realizariam a não-contaminação.
(Dôgen Zenji)