aprendi cedo os princípios
de Mies Van der Rohe
naquela praia soube por instinto
que topless era
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espasmo
no meio do nada alguma cousa
o ruido
de martelos ao longe
ou a pressão do corpo contra a cama
recordos a construir imagens ou desejos
a memória a inventar passados
que sempre foram
ou não
realidades
o fundo do olho que não constrói mais propaganda
as armas do vencido que nunca foram flores
os corpos cerceados as cabeças que surgem
formando um corpo só tão desejado
longe
tão perto
espasmo
os órgãos são um mar desparramado
e são orgasmos os sentidos
contacto de fragmento com fragmento
que é o mundo todo
a vida que se foi
cada derrota a sair do esconderijo
mamã na cama
as traições as tradições as deceções
os coitus interruptus
não são as quecas boas que perduram
mas este mar de corpos
e o sabor a insucesso que escondemos
no corpo que dói
que já não dói
espasmo
as palavras esvaem-se em cascata
a caras passam a esparcir as mamas
os olhos pousos de luz os cus os coitos
as vulvas as coninhas as bananas
e não dizer mandorla
pra que dizer
mandorla
a luz do túnel
e só esta luz
o rio
água nas calmas doce mar que banha
apenas esta calda e torna orgasmo
as dores
as traições
e cada pena
que faz voar o espasmo
só mar tantra
tinha uma rosa no peito
e passeava
nas suas mãos o peso das gaivotas
suspensas na garroa do verão
e tinha
nos pés as asas da andorinha
nas virilhas o vento que as narinas
pariam fresco e leve
porque tinha
uma rosa no peito
e teias de aranha como pele
finos fios de teia
de aranha era a estrutura
e era a carne
o orvalho da manhã que umedecia
a terra bem nutrida
dos intestinos
húmus de que nascia a rosa
que tinha no peito
e era o rosto
espelho do mundo
eram os olhos
farol que iluminava o breu
o sexo
passarinho
mosquito
borboleta
voo
daquela rosa a outra
mas havia
na rosa um alfinete
que lhe cosia ao peito as dores
e era
esse alfinete a culpa
a grande culpa
a miserável culpa
o medo
os dentes de metal que alimentara
para morder-lhe o coração
e era o seu sangue
as pétalas da rosa
que tinha no peito