se a história é aquilo que os livros guardam
porque a memória não chega
e se todas e todos nós carregamos a história
que é nossa muito além da memória consciente
e se a memória é seletiva
e todo o mundo sabe
que a memória é seletiva
que nos esconde o que dói
o que doeu
e nos abraça aos fantasmas
das vitórias
se somos
este corpo que somos
porque outros corpos foram antes
mortos ou torturados
e essa memória for expulsa
do que lembramos
então quem matou
ou torturou
ainda decide por nós quem é que somos
molda a memória da nossa história
o nó da rede que une este corpo
ao universo inteiro
deita abaixo a ponte
da ilha que somos
afunda os barcos
como afundou cadáveres
e é por isso
porque somos o mundo todo
nesta ilha
que é tempo de abraçarmos a dor
como abraçamos irmãos, pais e família
tempo de desenhar no espaço
deste papel de estraza
o nosso governo revolucionário
numa taberna
de nos vermos nos espelho da história
como nos vemos no espelho do mar em calma
a nossa vitória será
sermos quem somos
pequenas formigas que construímos mundos
a ela
- que está por vir -
é que me abraço