Dia após dia após dia
ao crepúsculo e à meia noite o frio era lancinante.
O céu era denso, com escuras nuvens que tapavam o sol.
O vento soprava feroz, a neve rodopiava com violência.
Ondas selvagens assaltavam os céus, golpeando peixes monstruosos.
As paredes tremeram e sacudiram-se, as pessoas berravam aterrorizadas.
Olhando para trás os últimos quarenta anos,
vejo agora que as coisas estavam a sair-se do controlo.
As pessoas tornaram-se moles e indiferentes,
formando fações e lutando entre elas.
Esqueceram as obrigações e o dever,
ignoraram as ideias de lealdade e justiça
e só pensavam nelas próprias.
Cheias de arrogância, enganavam-se umas às outras
criando uma infinita e obscena desordem.
O mundo estava cheio de loucura
mas ninguém partilhava a minha preocupação.
As coisas foram a pior, até que o último desastre chegou -
poucos estavam conscientes que o mundo estava malfadado
e terrivelmente fora de controlo.
Se de verdade quiseres compreender esta tragédia, olha dentro de ti,
em lugar de chorar desconsoladamente o cruel destino.
(Ryôkan)