Eras mesmo tu
quem eu vi
ou é esta alegria
que estou a sentir
um simples sonho?
- Teishin
Neste mundo sonhado
dormitamos
e falamos de sonhos -
Sonha, sonha ainda mais
tanto como quiseres.
- Ryôkan
Poderia ficar
aqui contigo
incontáveis dias e anos,
silenciosa como a lua
brilhante para a que olhamos.
- Teishin
Se o teu coração não mudar,
estaremos unidos
com tanta firmeza
como uma videira infinita
durante eras e séculos.
- Ryôkan
Será que não te lembras de mim
ou esqueceste o caminho?
Agora, espero por ti,
todo o dia, todos os dias,
mas tu não apareces.
- Ryôkan
Tenho certeza que a lua
brilha com força
lá por cima das montanhas,
mas nuvens medonhas
ocultam a cimeira.
- Teishin
Tens de erguer-te por cima
das nuvens medonhas
que cobrem a cimeira da montanha.
Senão, como farás
para ver o brilho?
- Ryôkan
Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA.
Foto de Nijwam Swargiary em Unsplash
(Ryôkan)
Peguei no meu bastão e devegar fiz o percurso
que leva à cabana em que vivi tantos anos.
Os muros tinham desabado e agora era abrigo de raposos e coelhos.
O poço ao pé da mata de bambu tinha secado
e densas teias de aranha cobriam a janela onde costumava ler à luz da lua.
Os degraus estavam cheios de ervas selvagens
e um grilo solitário cantava no frio amargo.
Perambulei de forma interminente,
incapaz de afastar-me enquanto o sol se punha com tristeza.
(Ryôkan)
Na ladeira do
Kugami,
à sombra da montanha,
durante quanto tempo foi
esta cabana a minha casa?
Chegou o momento
de abandoná-la -
a minha memória vai esvair-se
como as ervas do verão.
Andei e andei à sua volta
num sentido e no contrário
e depois afastei-me
até que a cabana desapareceu
entre as árvores.
Enquanto caminho, continuo
a olhar para trás depois de cada curva,
voltando a vista para aquele lugar.
(Ryôkan)